sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Beato José de Anchieta

José de Anchieta é natural de Tenerife, nas ilhas Canárias, na Espanha. Nasceu no ano de 1534, no dia 19 de março, em uma rica família e com possíveis laços de parentesco com Santo Inácio de Loyola, no mesmo ano em que este fundaria a Companhia de Jesus, na qual Anchieta ingressaria em 1551, dezessete anos depois.


Descendente de judeus convertidos, os quais eram mal vistos pela Inquisição espanhola, Anchieta mudou-se em 1948 para Coimbra, Portugal, a fim de prosseguir os seus estudos. Aos dezessete anos de idade decidiu-se a ingressar na Companhia de Jesus.

Ainda bem jovem, teve um deslocamento na espinha (há quem diga que padecia de "espinhela caída", outros de tuberculose óssea) e seus superiores decidiram enviá-lo juntamente com o pe. Manoel da Nóbrega em missão no Brasil, na esperança de o clima quente ajudá-lo a se recuperar de suas dores.

Em 1553, logo após seus primeiros votos, partiu para o Brasil, onde chegou em 13 de junho, acompanhando o segundo governador-geral do Brasil, Duarte da Costa. Ele ainda tinha dezenove anos de idade. Dirigiu-se para a capitania de São Vicente, onde juntou-se a pe. Manoel da Nóbrega na edificação do Colégio de São Paulo em Piratininga, o qual deu origem à cidade de São Paulo. A fundação do Colégio foi festejada em 25 de janeiro de 1554, festa da Conversão de São Paulo.

No ano de 1557, estoura a chamada Confederação dos Tamoios, onde os índios tupinambas uniram-se aos invasores franceses protestantes (huguenotes que pretendiam formar um país calvinista na Baía de Guanabara) e iniciam uma resistência para expulsar os portugueses do Brasil. Os índios guaianases, evangelizados pelos jesuítas, uniram-se aos portugueses para expulsar os invasores franceses e derrotar os índios armados. Após a morte do cacique Tibiriçá (um dos co-fundadores de São Paulo), anchieta e pe. Manoel da Nóbrega interfiriram e negociaram uma trégua. Anchieta ofereceu-se como refém dos tamoios, enquanto o chefe da Confederação, Cunhambebe, dirigiu-se com pe. Nóbrega para negociar a paz.

São diversos os relatos sobre a estadia de Anchieta entre os tamoios: os índios ficaram muito assustados ao ver a piedade e a santidade de vida daquele jovem rapaz. Mesmo atormentado pelas dores nas costas, auxiliava a quem podia; era modelo de pureza e castidade. Corriam boatos entre os índios de que ele levitava e seria um fortíssimo feiticeiro. Mas logo o temor tornou-se admiração.

Nesse período também compôs uma de suas obras primas: O Poema da Virgem, tido como o primeiro poema escrito no Brasil, com 4.172 versos, escritos nas areias da atual praia do Flamengo e memorizados pelo seu autor, o qual os transcreveria ao chegar em São Vicente.

Volta então ao Colégio de São Paulo, onde se dedica a lecionar: muitos assustam-se com sua figura, e especulam que não demorará muito a sua morte. As dores nas costas são constantes, e haverão de acompanhá-lo até a morte.

Anchieta escreve na areia
sua obra prima:"Poema da Virgem"
Foi ordenado sacerdote em 1560, com vinte e seis anos de idade, pelo segundo bispo do Brasil, dom Pero Leitão; a ordenação não ocorreu antes devido ao ataque e massacre da comitiva do primeiro bispo, dom Pedro Fernandes Sardinha.

Fundou diversos colégios e vilas, como Iritiba, no espírito Santo, em 1569; no ano de 1565, acompanhou a fundação de São Sebastião do Rio de Janeiro. Dois anos depois, esteve ao lado de Mém de Sá e do índio Araribóia, combateu os remanescentes franceses e tamoios, expulsando-os.

Em 1577, com então quarenta e um anos de idade, foi nomeado Provincial jesuíta do Brasil, em substituição ao pe. Manoel da Nóbrega, o qual renunciara ao cargo por motivos de idade. Ele visitava todas as missões jesuítas, do litoral de Pernambuco a são Paulo. Apesar das dores na costa, do corpo já mirrado, aparentando mais idade do que realmente tinha, fazia quase todo o percurso a pé, pois as dores o impediam de montar. Os índios apelidaram-no de Caraibebe, padre de asas, pois surpreendia a todos na velocidade em que andava, superando inclusive homens mais fortes e vigorosos.

Em 1587, deixou o cargo de provincial, e foi nomeado para dirigir o Colégio de Vitória, na capitania do Espírito Santo, cargo que exerceu até 1595, quando retirou-se para Iritiba.


Anchieta e o pe. Auspicueta, ambos formados em filologia, dedicaram-se a compreender melhor a língua falada pelos indígenas, chamada pelos portugueses de "abanheenga" e perceberam que todas elas possuem uma mesma raiz, com diferenciações dialéticas. A partir do maior contato com os índios, escreveu a "Arte da gramática da língua mais falada na Costa do Brasil", o primeiro manual de tupi-guarani, visando facilitar o contato dos missionários com os índios. Foi publicado em 1595, dois anos antes de sua morte.

A sua obra literária é vastíssima, composta por autos de teatro, catecismos, cartas, poemas e muitos outros. Anchieta faleceu em Iritiba, atual Anchieta, em 9 de junho de 1597, com sessenta e três anos de idade.

Seu processo de beatificação foi iniciado em 1617, mas foi atrapalhado e interrompido pela perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas. Anchieta só foi beatificado em 2 de junho de 1980, no Vaticano, pelo papa João Paulo II.



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