segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por que canonizar uma pessoa?

Cristo, fonte e origem da santidade
da Igreja
Por que canonizar uma pessoa? Canonizar é um processo oficial da Igreja Católica pelo qual, baseado no testemunho de vida, na prática das virtudes e segundo sinais sobrenaturais comprovados, uma pessoa é considerada santa, ou seja, já aceita na glória celeste e gozando da bem-aventurança eterna.

Somente Deus é Santo. A partir da entrega de Jesus, a Igreja foi santificada, unida a Cristo como seu Corpo e foi cumulada pelo Espírito Santo. Assim, é Cristo quem santifica a Igreja, e a santidade dela é o próprio Espírito Santo. Seus membros, constituídos filhos de Deus através do Batismo e da fé, podem assim ser chamados verdadeiramente de santos.

Alguns destes homens e mulheres, discípulos de Cristo e membros da Igreja, deram e ainda dão um testemunho com o derramamento de seu sangue (como os mártires) ou exercendo heroicamente as virtudes (caso das demais virtudes).

A Igreja, percebendo desde muito cedo o testemunho dos santos, como a Virgem Santíssima, os Apóstolos, os mártires e aqueles tantos outros seguidores do exemplo de Cristo, propôs aos fiéis a devoção e a reverência para com eles.

Também percebendo a íntima união entre a Igreja celeste e a Igreja militante (na terra), os Padres sempre testemunharam a realidade da "Comunhão dos santos": a união dos fiéis aqui na terra, dos já falecidos, em purificação de seus pecados, e dos bem-aventurados. Todos estes formam "uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amo misericordioso de Deus e de seus santos está sempre à escuta de nossas orações" (Catecismo, no. 962).

Por causa dessa intercessão dos santos por nós, vivos, a Igreja aprovou o culto e a devoção aos santos. Temerosa porém pelos excessos, a Santa Sé dedicou-se a avaliar através de um delicado processo a vida e os milagres atribuídos a uma pessoa com fama de santidade. Este é o processo de canonização, o qual pretendo expor de forma sucinta em breve.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Homilia do Papa Bento XVI na canonização de Frei Galvão

VIAGEM APOSTÓLICA
DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
AO BRASIL POR OCASIÃO DA V CONFERÊNCIA GERAL
 DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE
SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO
DE FREI ANTÔNIO DE SANT'ANNA GALVÃO, OFM
HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
Aeroporto "Campo de Marte", São Paulo
Sexta-feira, 11 de Maio de 2007
Senhores Cardeais
Senhor Arcebispo de São Paulo
e Bispos do Brasil e da América Latina
Distintas autoridades
Irmãs e Irmãos em Cristo,
«Bendirei continuamente ao Senhor / seu louvor não deixará meus lábios» [Sl 33,2]
1. Alegremos-nos no Senhor, neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que, por sua admirável providência, nos permite saborear um vestígio da sua presença, neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar.
Sim, não deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do Brasil e da América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei Antônio de Sant’Ana Galvão.
Quero agradecer as carinhosas palavras do Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer, que foi a voz de todos vós, e a atenção do seu predecessor, o Cardeal Cláudio Hummes, que com tanto esmero empenhou-se pela causa do Frei Galvão. Agradeço a presença de cada um e de cada uma, quer sejam moradores desta grande cidade ou vindos de outras cidades e nações. Alegro-me que através dos meios de comunicação, minhas palavras e as expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada coração. Tenham certeza: o Papa vos ama, e vos ama porque Jesus Cristo vos ama.
Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo, em atitude de grande enlevo, proclama: «Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos» (Mt 11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece.
Saúdo com afeto, a toda a comunidade franciscana e, de modo especial as monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista, irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares.
2. Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria, de quem ele se considerava ‘filho e perpétuo escravo’.
Deus vem ao nosso encontro, "procura conquistar-nos - até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. Deus caritas est, 17). Ele se revela através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente da Eucaristia. Por isso, a vida da Igreja é essencialmente eucarística. O Senhor, na sua amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença.
Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor, levantado no alto pelo sacerdote, depois da Consagração do pão e do vinho, ou o adorarmos com devoção exposto no Ostensório renovemos com profunda humildade nossa fé, como fazia Frei Galvão em "laus perennis", em atitude constante de adoração. Na Sagrada Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o mesmo Cristo, nossa Páscoa, o Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida aos homens. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Eles devem poder conhecer a fé da Igreja, através dos seus ministros ordenados, pela exemplaridade com que estes cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de toda obra de evangelização. Por sua vez, os fiéis devem procurar receber e reverenciar o Santíssimo Sacramento com piedade e devoção, querendo acolher ao Senhor Jesus com fé e sempre, quando necessário, sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para purificar a alma de todo pecado grave.
3. Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido, por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã Helena Maria, que foi a primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição", testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram". Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das nossas consciências.
4. Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz se não se conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e consigo mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII, definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Que nos pede o Senhor?: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amo». Mas logo a seguir acrescenta: que «deis fruto e o vosso fruto permaneça» (cf. Jo 15, 12.16). E que fruto nos pede Ele, senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá?
A fama da sua imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda.
Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos» (ib.v.13). Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta maneira, se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça.
Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida". Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à chamada, a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na América Latina está chamada a enfrentar?
5. «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei», diz o Senhor no Evangelho, (Mt 11,28). Esta é a recomendação final que o Senhor nos dirige. Como não ver aqui este sentimento paterno e, ao mesmo tempo materno, de Deus por todos os seus filhos? Maria, a Mãe de Deus e Mãe nossa, se encontra particularmente ligada a nós neste momento. Frei Galvão, assumiu com voz profética a verdade da Imaculada Conceição. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original, quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus, nosso Salvador. Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora.
De fato, este nosso Santo entregou-se de modo irrevocável à Mãe de Jesus desde a sua juventude, querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais.
Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão! Como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor". São palavras fortes, de uma alma apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do matrimônio. O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento.
É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna; a devoção mariana é garantia certa de proteção maternal e de amparo na hora da tentação. Não será esta misteriosa presença da Virgem Puríssima, quando invocarmos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos depositar em suas mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados, dos seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa.
6. Queridos amigos, deixai-me concluir evocando a Vigília de Oração de Marienfeld na Alemanha: diante de uma multidão de jovens, quis definir os santos da nossa época como verdadeiros reformadores. E acrescentava: "só dos Santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo" (Homilia, 20/08/2005). Este é o convite que faço hoje a todos vós, do primeiro ao último, nesta imensa Eucaristia. Deus disse: «Sede santos, como Eu sou santo» (Lv 11,44). Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo, dos quais nos vêm, por intercessão da Virgem Maria, todas as bênçãos do céu; este dom que, juntamente com a fé é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, como também necessária a santidade, cada qual no seu estado de vida, para revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Cristo, nosso amigo! Amém!

Santo Antônio de Santana Galvão

Antonio Galvão era o quarto filho de Antônio Galvão de França, capitão-mor da freguesia de Santo Antônio de Guarantiguetá, comerciante e membro da Ordem Terceira de São Francisco; e de Isabel Leite de Barros, conhecida por sua generosidade. Nasceu no ano de 1739 (não se sabe ao certo o dia), aproximadamente vinte e dois anos após a imagem de Nossa Senhora Aparecida ser encontrada no rio Paraíba, próximo a Guaratinguetá.

Com treze anos de idade, ingressou no seminário jesuíta de Cachoeira, Bahia, onde inclusive já se encontrava um de seus irmãos. Em 1755, falece sua mãe. No ano seguinte, devido à perseguição promovida pelo marquês de Pombal aos jesuítas, transfere-se, a conselho do pai, para o convento franciscano de Taubaté, apesar do desejo de se tornar padre daquela congregação.

Com vinte e um anos de idade, decide-se a ingressar na Ordem de são Francisco e torna-se noviço, adotando o nome de Antônio Santana, em homenagem à mãe de Nossa Senhora. Em 1761, com vinte e dois anos de idade, faz a profissão solene dos votos, durante a qual fez também o voto de defender a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, uma verdade de fé rejeitada por muitos ainda naquela época, e que só seria declarada como dogma em 1854.

Em 11 de julho de 1762, com vinte e três anos de idade, frei Antônio Galvão foi ordenado sacerdote e transferido para o Convento de São Francisco na cidade de São Paulo, a fim de continuar seus estudos. Durante a viagem para São Paulo, passou em Guaratinguetá para celebrar sua primeira missa, realizada na Matriz de Santo Antônio, mesma igreja de seu batismo. Em 1768, com vinte e nove anos, foi nomeado confessor, pregador e porteiro do convento, considerado um cargo importante naquela época. Destacou-se de tal forma pela sua vida piedosa e pela sua dedicação ao ponto de a Câmara Municipal lhe considerar o "novo esplendor do Convento".

Com trinta e um anos, foi convidado para fazer parte da Academia Paulistana de Letras. Na segunda sessão literária, realizada em março de 1770, declamou com sucesso, em latim, dezesseis peças de sua autoria, todas dedicadas a Santa Ana.

De 1769 a 1770, atuou como confessor no Recolhimento de Santa Teresa, casa que abrigava devotas de Teresa de Ávila na cidade de São Paulo, onde vivia a irmã Helena Maria do Espírito Santo, uma freira penitente, a qual afirmava ter visões onde Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento. Como era seu confessor, frei Galvão estudou as mensagens e se consultou com os outros religiosos, e as reconheceram como válidas e sobrenaturais. Por isso, ele ajudou a criar o novo Recolhimento, chamado Nossa Senhora da Luz, fundado em 2 de fevereiro de 1774, festa da Apresentação do Senhor, em São Paulo. Era baseado na Ordem da Imaculada Conceição, e se tornou um lar para meninas desejosas de viver uma vida religiosa sem fazer votos. Com a morte repentina da irmã Helena em 23 de fevereiro de 1775, tornou-se o novo superior do instituto. Tinha ele trinta e seis anos de idade.

Naquela altura, já tinha fama de santidade e de ser capaz de milagres, gerando uma grande procura pelos doentes. Sem condições de visitar um enfermo, escreveu num pedaço de papel uma frase do Ofício de Nossa Senhora: Post partum Virgo, Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis ("Após o parto, ó Virgem, inviolada permanecestes: rogai por nós, Santa Mãe de Deus"). Em seguida, enrolou o papel no formato de uma pílula e deu-o a uma jovem cujas fortes cólicas renais estavam colocando sua vida em risco. Depois que ela tomou a pílula a dor cessou imediatamente e ela expeliu uma grande quantidade de cálculo renal. Em outra ocasião, um homem pediu-lhe ajuda para sua esposa, a qual passava por um parto difícil. O frei enviou-lhe as pílulas de papel, e a criança nasceu rapidamente, sem maiores complicações. A história das pílulas espalhou-se rapidamente e frei Galvão foi obrigado a ensinar às irmãs do Recolhimento como fabricá-las, o que elas fazem até os dias de hoje. Elas são distribuídas gratuitamente para cerca de 300 fiéis diariamente.


Naquela época, uma mudança no governo da província de São Paulo trouxe um líder inflexível , e este ordenou o fechamento do convento. Frei Galvão aceitou a decisão, mas as freiras se recusaram a abandonar o local, e devido à pressão popular e aos esforços do bispo, o convento foi logo reaberto. Posteriormente, com o crescente número de novas irmãs, a construção de mais espaço de convivência se tornou necessária. Frei Galvão demorou vinte e oito anos para construir um novo convento e uma igreja, sendo esta última inaugurada em 15 de agosto de 1802. Além das obras de construção e dos deveres dentro e fora de sua Ordem, ainda comprometeu-se também com a formação das irmãs. Os estatutos escritos por ele eram um guia para a vida interior e para a disciplina das religiosas.
Quando as coisas pareciam estar mais calmas, uma outra intervenção do governo trouxe uma nova provação para frei Galvão. O capitão-mor sentenciou um soldado à morte por ofender seu filho, e o sacerdote foi obrigado a se exilar por ter defendido o soldado. Mais uma vez, a pressão popular conseguiu revogar a ordem contra o padre.

Em 1781, frei Galvão foi nomeado mestre dos noviços em Macacu. Entretanto, as irmãs e o Bispo de São Paulo, Dom Manuel da Ressurreição, recorreram ao superior provincial, escrevendo-lhe que "nenhum dos habitantes desta cidade será capaz de suportar a ausência deste religioso por um único momento". Como resultado, ele foi mandado de volta para São Paulo. Mais tarde, em 1798, foi nomeado guardião do Convento de São Francisco, sendo reeleito em 1801.

Em 1811, fundou o Convm a formação das irmãs. Os estatutos escritos por ele eram um guia para a vida interior e para a disciplina das religiosas.

Quando as coisas pareciam estar mais calmas, uma outra intervenção do governo trouxe uma nova provação para frei Galvão. O capitão-mor sentenciou um soldado à morte por ofender seu filho, e o sacerdote foi obrigado a se exilar por ter defendido o soldado. Mais uma vez, a pressão popular conseguiu revogar a ordem contra o padre.

Em 1781, frei Galvão foi nomeado mestre dos noviços em Macacu. Entretanto, as irmãs e o Bispo de São Paulo, Dom Manuel da Ressurreição, recorreram ao superior provincial, escrevendo-lhe que "nenhum dos habitantes desta cidade será capaz de suportar a ausência deste religioso por um único momento". Como resultado, ele foi mandado de volta para São Paulo. Mais tarde, em 1798, foi nomeado guardião do Convento de São Francisco, sendo reeleito em 1801.

Em 1811, fundou o Convento de Santa Clara em Sorocaba. Onze meses depois, retornou ao Convento de São Francisco, na cidade de São Paulo. Em sua velhice, obteve permissão do bispo dom Mateus de Abreu Pereira para ficar no Recolhimento, onde faleceu em 23 de dezembro de 1822, com oitenta e três anos de idade.

Frei Galvão foi sepultado na igreja do Recolhimento Nossa Senhora da Luz, sendo o seu túmulo um destino de peregrinação dos fiéis que teriam obtido favores devido a sua intercessão. Na época de seu enterro, sua fama de santo já havia se espalhado por todo o Brasil, e os frequentadores de seu velório, desejosos em guardar uma relíquia sua, foram cortando pedacinhos de seu hábito, o qual foi reduzido até os joelhos. Como ele somente possuía aquele hábito, foi sepultado com um de outro frade, ficando igualmente curto (frei Galvão tinha aproximadamente 1,90 m de altura!). A primeira lápide do túmulo teria o mesmo destino de seu hábito, sendo pouco a pouco quebrada e levada pelos devotos, os quais colocavam as pedras nos copos com água para os doentes.

Frei Galvão foi beatificado em 25 de outubro de 1998, no Vaticano, pelo papa João Paulo II. Foi o primeiro bem-aventurado nascido no Brasil. Em 11 de maio de 20087, em visita do papa Bento XVI ao Brasil, foi canonizado em São Paulo.ento de Santa Clara em Sorocaba. Onze meses depois, retornou ao Convento de São Francisco, na cidade de São Paulo. Em sua velhice, obteve permissão do bispo dom Mateus de Abreu Pereira para ficar no Recolhimento, onde faleceu em 23 de dezembro de 1822, com oitenta e três anos de idade.

Frei Galvão foi sepultado na igreja do Recolhimento Nossa Senhora da Luz, sendo o seu túmulo um destino de peregrinação dos fiéis que teriam obtido favores devido a sua intercessão. Na época de seu enterro, sua fama de santo já havia se espalhado por todo o Brasil, e os frequentadores de seu velório, desejosos em guardar uma relíquia sua, foram cortando pedacinhos de seu hábito, o qual foi reduzido até os joelhos. Como ele somente possuía aquele hábito, foi sepultado com um de outro frade, ficando igualmente curto (frei Galvão tinha aproximadamente 1,90 m de altura!). A primeira lápide do túmulo teria o mesmo destino de seu hábito, sendo pouco a pouco quebrada e levada pelos devotos, os quais colocavam as pedras nos copos com água para os doentes.

Frei Galvão foi beatificado em 25 de outubro de 1998, no Vaticano, pelo papa João Paulo II. Foi o primeiro bem-aventurado nascido no Brasil. Em 11 de maio de 20087, em visita do papa Bento XVI ao Brasil, foi canonizado em São Paulo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

São Roque Gonzáles e companheiros

São Roque Gonzáles e companheiros


São Roque Gonzáles, Santo Afonso Rodrigues e são João de Castilho são padres jesuítas, de origens espanhola e paraguaia (Roque Gonzáles) e foram uns dos primeiros a evangelizar o sul do Brasil. Podem ser considerados entre os primeiros mártires a derramarem o seu sangue em solo do Brasil.

Roque González nasceu em Assunção, no Paraguai, em 1576. Era filho de espanhóis, e desde cedo recebeu uma esmerada educação com os missionários jesuítas espanhóis. Sentia-se desde pequeno inclinado à vocação sacerdotal, e foi ordenado padre diocesano com apenas vinte e dois anos de idade.

Padre Roque destacava-se pelo seu zelo também com os indígenas, visitando quase diariamente os povoados e dedicando-lhes uma especial catequese. O desejo missionário era ardente em seu peito, e isso levou-lhe, com trinta e três anos de idade, a pedir a admissão na Companhia de Jesus, a qual edificava as reduções indígenas.

As reduções jesuíticas fundadas na América Latina, especialmente no sul do Brasil e nos países adjacentes eram aldeamentos indígenas altamente organizados e sob administração dos padres jesuítas. Dentro de seus limites, formavam uma sociedade onde se conjugavam a cultura europeia e indígena, conjugando os valores positivos e evitando os defeitos de cada uma.

As reduções acolhiam milhares de indígenas, os quais recebiam catequese cristã e eram educados segundo moldes europeus, sem, contudo, perderem o cerne de sua identidade cultural. Ali aprendiam a agricultura, a construção, a arquitetura, a carpintaria, a metalurgia, a pecuária, as artes musicais e teatrais, a ler e escrever. As reduções eram também autônomas, e esse fato gerava muita oposição por parte: dos colonizadores, os quais temiam a consolidação de um “império jesuítico”; dos traficantes de escravos, vendo sua “fonte de renda” bem defendida e organizada; de outras tribos selvagens, entrando em conflito e tentando atacá-las; e dos demais colonizadores, segundo a mentalidade de que os indígenas não valiam tamanho esforço por parte dos missionários.

O período de meados do século XVII, quando viviam os três mártires, pode ser considerado o auge das reduções na América Latina.

Nossa Senhora da Conceição,
com traços indígenas
Foi nas missões que pe. Roque teve contato com pe. Afonso Rodrigues, jesuíta espanhol, natural de Zamora, província próxima ao norte de Portugal, e famosa pelo tratado da independência de Portugal, em 1143 (Tratado de Zamora). Afonso ingressou desde cedo na Companhia de Jesus, em Salamanca, onde realizou seus estudos. Com dezoito anos, foi enviado com outros companheiros para Córdoba, na Argentina, onde prosseguiu com os estudos e foi ordenado aos vinte e cinco anos de idade. Dedicou-se ao trabalho de evangelização com os índios guaicurus e na redução de Itapuã, até fundar em companhia de pe. Roque a redução de Todos os Santos em Caaró, em 1 de novembro de 1628.

Juntamente com Afonso, veio para a América João de Castilho (Juan del Castillo). Nobre de nascimento, natural de Belmonte, nasceu em 14 de setembro de 1595. cursou Direito na Universidade de Alcalá, onde decidiu-se definitivamente a ingressar na Companhia de Jesus, em 1614, com dezenove anos de idade. Prontificou-se a vir para a América, onde estudou em Córdoba e depois foi enviado ao Chile, onde foi ordenado sacerdote em 1625, com trinta anos de idade, e partiu para a missão de são Nicolau, recém-fundada pelo pe. Roque, na região do atual Rio Grande do Sul.

Em 1 de novembro de 1628, pe. Roque, em companhia de outros sacerdotes, inclusive os seus outros dois companheiros mártires, fundaram a redução de Todos os Santos, em Caaró, atualmente Caibaté, no rio Grande do Sul. Isso gerou a ira do cacique Nheçu, um curandeiro local que via os seus clientes desaparecerem e perdia cada vez mais seu poder por causa das reduções jesuítas.

Coração de são Roque Gonzáles
No dia 15 de novembro de 1628, quando acabava de celebrar a Santa Missa, pe. Roque Gonzáles foi atacado por um grupo de indígenas armados e comandados pelo cacique, os quais o mataram a marteladas com machados de pedra. Em seguida deram o mesmo tratamento a pe. Afonso Rodriguez, que saíra de sua cabana ao ouvir o barulho. Os índios atearam fogo à capela e jogaram no meio das chamas os corpos dos dois mártires.O coração de pe. Roque, porém, permaneceu ileso dentro das chamas. Ele tinha cinquenta e dois anos de idade e pe. Afonso, trinta.

Dois dias depois, em 17 de novembro, houve um novo ataque à redução, e desta vez assassinaram o pe. João de Castilho, e ainda um catecúmeno que tentou defendê-lo, o cacique Adauto, já de certa idade. Pe. João tinha trinta e três anos de idade.

Roque Gonzáles e seus companheiros foram beatificados por Pio XI em 28 de janeiro de 1934, e canonizados pelo João Paulo II em 16 de maio de 1988, quando o papa visitava Assunção. São os primeiros santos canonizados e que dedicaram suas vidas pela evangelização do Brasil.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus


No dia 16 de dezembro de 1865, no norte da Itália, em uma cidade chamada Vígolo Vataro, em Trento, na Itália, nasceu a segunda filha de Antônio Napoleone Visintainer e Anna Pianezzer, a qual batizaram com o nome de Amábile Lúcia Visintainer.

Aos oito anos de idade, devida à crise pela qual passava a região do Sul-Tirol, a pequena Amábile trabalha em uma fábrica. Lá, destacou-se pela sua piedade e pela caridade: apesar de pobre, repartia o lanche com as meninas ainda mais pobres e ajudava naquilo em que lhe era possível. Era período de industrialização da Europa, e nem mesmo as crianças eram poupadas da exploração econômica.

Mas esse período não durou muito tempo, pois em 1875, quando ainda tinha nove anos de idade, seu pai uniu-se a um grupo de famílias da região de Trento e partiram para o sul do Brasil para trabalhar na agricultura, aqui chegando no dia 25 de setembro do mesmo ano. Estabeleceram-se em Vígolo, na região de Nova Trento, em Santa Catarina.

A vida não foi fácil para a jovenzinha. Em 1877, com onze anos de idade, faleceu a sua mãe, e foi Amábile quem assumiu as tarefas domésticas até o novo casamento do pai, em 1890. Desde então, começa a se destacar pela piedade e pelo zelo em relação a tudo que era ligado à religião; a partir dos catorze anos de idade, assume a missão confiada pelo pe. Augusto Servanzi, de dar a catequese às crianças, assistir os enfermos e zelar pela Capela São Jorge, onde frequentava.

Nunca vira uma religiosa em sua vida, mas, pouco a pouco, surge no coração de Amábile o desejo de se consagrar a Deus.

Nos anos entre 1888 e 1890, Amábile sonha com Nossa Senhora de Lourdes, por três vezes. No sonho, a Virgem Santíssima lhe diz: “É meu desejo ardente que comeces uma obra: trabalharás pela salvação de minhas filhas!”. Sem entender, mas sem hesitar, a jovem deu o seu sim àquilo pedido por Nossa Senhora.

Havia naquele vilarejo uma senhora com câncer terminal, chamada Ângela Lúcia Viviane. No dia 12 de julho de 1980, com então 24 anos de idade, Amábile e uma amiga, Virgínia Rosa Nicoldi, saem de casa e vão residir em um casebre, ao qual chamaram “Hospitalzinho são Vigílio”, a fim de cuidar desta senhora. Essa data marca como a fundação da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Quando a enferma faleceu, no ano seguinte, continuaram residindo ai, dedicando-se à oração e ao serviço ao próximo. Juntou-se a elas também outra moça, Teresa Anna Maule.

No ano de 1984, receberam a doação de um terreno de João Francisco Sgrott, e passaram a residir em Nova Trento, por sugestão do superior dos padres jesuítas, sem contudo esquecerem-se de Vígolo.

No ano seguinte, o bispo diocesano, Dom José de Camargo Barros, aprova a Congregação no dia 25 de agosto, e pede ao padre Luiz Maria, jesuíta, a prepará-las para os votos religiosos, os quais são professados pelas jovens no dia 7 de dezembro. Na ocasião, assumem seus novos nomes: Amábile, ir. Paulina do Coração Agonizante de Jesus; Virgínia assumiu o nome de ir. Matilde da Imaculada Conceição; e Tereza, ir. Inês de São José.

Em 1986, já cinco jovens pedem admissão na congregação. Ir. Paulina passa a ser chamada como Madre, isto é, superiora. Apesar deste título, não se envaideceu, mas passou a buscar ainda mais a humildade. Em 1903 parte com algumas irmãs para São Paulo, onde residiram no Asilo da Sagrada Família, no Bairro Ipiranga.

Em 1903, Madre Paulina foi eleita superiora geral, cargo do qual foi deposta pelo arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva. Partiu ela então para o Asilo São vicente, em Bragança Paulista, onde consertava e lavava as roupas dos asilados e os servia em tudo. Permaneceu ai por oito anos, quando o arcebispo determinou que regressasse ao Asilo da Sagrada Família.

No ano de 1933, o Papa Pio XI concede o Decreto de Louvor à Congregação, seguido pela aprovação pontifícia. Mas a saúde de madre Paulina já está abalada.

Em 1938, devida à grave diabetes, amputa um dedo da mão direita. Mas dias depois precisa submeter-se a nova cirurgia, e perde todo o braço.

Em 1942, dois anos após comemorar o jubileu de ouro de fundação da Congregação, madre Paulina falece, no dia 9 de julho, com 77 anos de idade.

No dia 18 de outubro de 1991, em visita ao Brasil, o papa João Paulo II declara-a Bem-aventurada durante missa celebrada em Florianópolis, em Santa Catarina. E em 19 de maio de 2002, em Roma, na Itália, o mesmo papa João Paulo II a declara santa, a primeira santa brasileira.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Santos do Brasil



O Brasil possui atualmente cinco santos canonizados, dos quais apenas um realmente nasceu no Brasil, Santo Antônio de Santana Galvão, uma imigrante que aqui chegou ainda pequena, Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, e outros três missionários, um padre paraguaio e dois espanhóis, martirizados no sul Brasil.

Atualmente, são 77 os declarados oficialmente bem-aventurados pela Igreja, mas este número crescerá ainda em breve, com a beatificação de Nhá Chica e irmã Dulce.

Pretendo, de forma devagar e segundo o tempo de que eu dispor, apresentar de maneira reduzida a biografia de cada um desses santos e beatos. Dessa forma, saberemos que a Terra de Santa Cruz também frutifica para a Igreja!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Reunidos no Inferno": Sobre o valor do Crucifixo





Trecho do meu trabalho literário, intitulado "Reunidos no Inferno", apresentado em 2008 para a Academia Literária Imaculado Coração de Maria, do Seminário Maior Diocesano de Anápolis. No trecho a seguir, uma das personagens, um diabo em meio a uma reunião de demônios no inferno, dá sua sugestão para destruir a Igreja e conquistar mais almas para o inferno.

Vamos desaparecer os crucifixos! Sempre que os veem, os homens sentem-se reconfortados e recordam que Cristo os salvou. Eles estão nas casas, a lembrar aos esposos o amor de Cristo pela Igreja, do qual o Matrimônio é figura; e lembra oas filhos do modelo perfeito de obediência, que foi a Vida do Redentor. Eles estão também nas escolas, onde lembram aos professores e aos alunos de que vã é a ciência quando vai contra Deus e que Jesus é o centro da História humana. Também estão nos hospitais, onde os doentes unem seus sofrimentos aos que Cristo sofreu na Cruz; e desperta nos médicos a consciência do zeloso dever pelos doentes, lembrando-os de que não devem ir contra a vida. Os crucifixos também estão nos tribunais, a lembrar aos juízes de que há uma Lei acima das leis humanas e alertando-os do poder de suas decisões, pois foi por meio de uma sentença que o Inocente foi condenado e morto tão violentamente; também aos réus é consolo, pois lhes dá fortaleza para que reconheçam e arrependam-se de seus pecados, peçam perdão a Deus e à sociedade e aceitem as consequências de seus crimes. Devemos usar de todos os nossos meios e argumentos para que, paulatinamente, os crucifixos sejam removidos e substituídos por símbolos menos expressivos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Catolicofobia? Dilma retira crucifixo e Bíblia e de seu gabinete



Em sua primeira semana, Dilma Rousseff fez mudanças em seu gabinete. Substituiu um computador de mesa por um laptop e retirou a Bíblia da mesa e o crucifixo da parede.

Durante a campanha eleitoral, a então candidata se declarou católica e foi atacada pelos adversários sob a acusação de ter mudado suas posições religiosas.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/856996-biblia-e-crucifixo-sao-retirados-do-gabinete-de-dilma-no-planalto.shtml


A Ministra Helena Chagas declarou que o crucifixo seria de Lula. Cf.: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/folha-tira-biblia-e-crucifixo-do-gabinete-de-dilma.html

O gozado é que o mesmo já estava no mandato de Itamar Franco!


sábado, 8 de janeiro de 2011

Entrevista de Dom Manoel (Última Parte)


Última parte da entrevista, dom Pestana fala sobre cultura. De uma maneira irreverente, Dom Manoel mostrou sua inteligência aguçada, capaz de discursas sobre diversos assuntos.

O talento goiano

Euler Belém — Fora a Bíblia, o senhor tem um livro de cabeceira? Lê algum poeta em especial?

Em cima do meu criado-mudo há sempre pelo menos cinco livros. Leio um pouco, antes de deitar, qualquer que seja a hora. A escolha depende da disposição. Chesterton (1874-1936), por exemplo. Ou Gustavo Corção (1896-1978), Lições de Abismo. Hugo Wast, o grande escritor argentino. Virgil Gheorghiu da 25ª Hora e suas deliciosas memórias. Ricciotti, A Vida de Jesus, São Paulo, A Igreja dos Mártires, História de Israel, Com Deus ou Contra Deus, Deus na Pesquisa Humana. Padre Antônio Vieira, incomparável. Às vezes, Agatha Christie. Freqüentemente algum livro de filosofia, ligado às disciplinas que estou lecionando. De poetas, li mais antologias, tão úteis para a formação do estilo. João de Deus, Campo de Flores, o mestre da simplicidade. Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Primavera, muitos sonetos de Camões, Bocage e Antero de Quental, Álvares de Azevedo. O tempo não é muito para as ocupações obrigatórias.

Euler Belém — Quais os autores goianos que o senhor gosta de ler?

A primeira coisa que fiz ao receber do senhor núncio a notícia de que o Papa me queria bispo de Anápolis, foi ler na Enciclopédia dos Municípios tudo sobre as regiões da diocese. No seminário menor, ganhara, de prêmio escolar, o livro Lá Longe no Araguaia. Soube aí que existia Meia Ponte, Antas e outras coisas. Monsenhor Primo Vieira fora meu pároco e professor no Seminário Maior. A família morava em Catalão, outro nome amigo no meu pequeno universo. Mas ao chegar aqui, infelizmente, encontrei tanto o que fazer que tive que deixar a literatura. As dificuldades do início me bloquearam também os contatos com a gente de letras. Conheci Ursulino Leão, Gelmires Reis, Haydée Jaime. Li versos de Cora Coralina, José Mendonça Telles. Soube que Bernardo Élis era originário da diocese. Assíduo freqüentador de jornais, pude encontrar com alegria alguns excelentes prosadores. Gostaria de fazer mais justiça ao talento goiano.

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Força revolucionária

Licínio Leal Barbosa — Goiás deve ao senhor ter trazido aqui, em agosto de 1984, um autor famoso em todo mundo, Virgil Gheorghiu, autor da 25ª Hora e a Espiã. Qual a contribuição dele para os tempos modernos?

A contribuição dele é fantástica. Espero que não seja esquecido. Escrevi no prefácio que fiz para A Espiã que ele era um desses autores malditos. Muitas enciclopédias sequer o citam. No entanto, 25ª Hora foi considerado um dos grande romances da literatura, por ninguém menos que o filósofo francês Gabriel Marcel. Virgil Gheorghiu é por todos e contra todos. Num de seus livros, O Exterminador, ele mostra como Stalin considerava a religião sob o aspecto de sua força revolucionária.

Licínio Leal Barbosa — Naquela noite em que estivemos, no apartamento do escritor Ursulino Leão, com Virgil Gheorghiu, a Bandeirantes exibiu o filme 25ª Hora. O senhor teve influência nisso?

Sim. Insisti para que o filme fosse veiculado durante sua estada aqui. 25ª Hora significa a hora depois do tempo. Houve até um espanhol, Cabo de Villa, que escreveu um livro chamado 32 de Dezembro. Gheorghiu também inspirou Buñuel, em um filme engraçadíssimo sobre um ateu que fala em Deus o tempo todo.

Licínio Leal Barbosa — Como o senhor conheceu Virgil Gheorghiu?

Li Gheorghiu, pela primeira vez, quando estava começando meu magistério em Santos. Eu me empolguei com ele e passei a utilizar suas obras em minhas aulas. Uma de minhas alunas, que era professora de um grande instituto de educação, também fez o mesmo com seus alunos, que resolveram escrever para ele. Falaram de mim e, com isso, se estabeleceu o contato entre nós. Estive em sua casa em Paris, e o convidei, em 84, para ser um dos conferencistas da Semana Internacional de Filosofia em Petrópolis. Gheorghiu estava preocupado com o futuro de sua obra. Havia um documento na KGB, com sua assinatura, falsa, cedendo todos os direitos de sua obra para a KGB. Mas o governo soviético caiu, e ele ainda sobreviveu por algum tempo.

Euler Belém — O que o senhor acha do cinema de Pasolini e de Felini?

Pretendo enviar uma carta à comissão de cinema que incluiu o Evangelho de São Mateus, de Pasolini, na lista dos grandes filmes. Mas Pasolini reduz Cristo à figura de um reformador social. Mais nada. Um de seus filmes, Teorema, até recebeu prêmio da Organização Católica Nacional de cinema, da Itália, mas já era possível perceber que Pasolini estava indo pelo caminho errado. Apesar de alguns possíveis valores "técnicos e até poéticos, a obra de Pasolini é extremamente negativa. Pasolini acabou sendo uma espécie de Voltaire do cinema.

Entrevista de Dom Manoel (V parte)


Talvez um dos trechos mais importantes da entrevista, dom Pestana fala sobre literatura e política, e expõe seu pensamento sobre o marxismo, educação, Tradição da Igreja e tradições, liturgia, outras religiões e vários dramas que afligiam e ainda afligem a juventude, como sexo e drogas.

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Renan é o poeta da mentira”

Euler Belém — O trabalho de Huberto Rohden, autor de O Drama Milenar do Cristo e do Anti-Cristo, tem consistência teológica e filosófica? O que acha do livro citado?

Não conheço o livro, logo não posso julgá-lo. Seminarista de calças curtas, lia seus livrinhos açucarados do Apostolado da Boa Imprensa. O seu Paulo de Tarso, para nossa decepção, resultou ser, em boa parte, plágio do alemão Hollzsmeister, se não me engano. Depois, ele deixou os Jesuítas e, finalmente, o sacerdócio. Recebeu uma bolsa para pesquisas científicas em Princeton; freqüentou três anos o Golden Lotus Temple, de Kriya Yoga, em Washington, percorreu o Oriente em busca da mística. Promoveu cursos em Goiânia e Brasília sobre o que chama de Filosofia Univérsica e Filosofia do Evangelho. Homem de muitas palavras novas e idéias mais antigas, como macrocosmo mundial e microcosmo hominal, misturou um pouco de Ocidente com muito do Oriente, apresentou um amálgama de ciência, filosofia e esoterismo gnóstico, bem ao gosto da mentalidade místico-poética de muitos dos nossos contemporâneos.

Euler Belém — Rohden cita Nietzsche: “Se o Cristo voltasse ao mundo, a primeira declaração pública que faria a todos os países seria esta: ‘Cristãos de todas as igrejas, sabei que eu não sou cristão — eu sou Cristo”. Trata-se de uma crítica aos cristãos?

Não afirmo que todas as críticas aos cristãos sejam injustas. Evidentemente, tanto Nietzsche quanto Rohden não nos poupam. Somente Cristo é Cristo. Não passamos de suas pálidas imagens, na melhor das hipóteses. Podemos ser sua morada, mas sempre infinitamente longe dele. Para nossa desgraça, muitas vezes de cristãos temos apenas o rótulo. “Não é quem diz: Senhor, Senhor! que entra no reino dos céus, mas quem faz a vontade de meu Pai, esse entra no reino dos céus” — disse Jesus. Para o cristão, cada instante é uma oportunidade que Deus lhe dá para ser melhor. Quem se julga suficientemente bom, já começa a ser ruim.

Euler Belém — Qual é a biografia mais completa de Jesus Cristo? É a de Renan?

Pelo amor de Deus! Renan é anticristão. É o poeta da mentira. Ele embrulha tudo. Muitos jovens se perderam lendo Renan. Leiam um brasileiro que fala dele, Paulo Setúbal, no Confiteum.

José Maria e Silva — O senhor leu Renan com prazer?

Vou fazer uma comparação meio absurda: um castelo de esterco, mesmo sendo de esterco, é um castelo e pode ter muita coisa bonita. A maior biografia de Cristo, sem dúvida alguma, é a de Ricciotti, A Vida de Jesus. Quem quiser um livro mais literário sobre Jesus, e também sério, deve ler Plínio Salgado.

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A crença no humanismo


"Não sou favorável à volta da Missa em latim, mas creio que seria salutar que sempre houvesse missas em latim para aqueles que querem"


Euler Belém — É admirável a relação da Igreja Católica com a palavra, tradição que vem da cultura judaica. Mas, modernamente, a Igreja vem-se afastando dessa tradição. A liturgia não tem mais a mesma solenidade de antes e os padres demonstram ter pouca intimidade com o idioma. Como o senhor avalia essa queda do padrão cultural do clero?

Somos um pouco o reflexo da própria situação geral. Hoje em dia é difícil encontrar, por exemplo, um advogado que escreva uma petição sem cometer dois erros por linha. O problema da Igreja, hoje, é o fim dos seminários menores.

Licínio Leal Barbosa — Como o senhor avalia a substituição do canto gregoriano pelos cânticos laicos, profanos?

Recentemente, estive relendo o que Platão diz sobre os cantores. Ele diz que os cantores amolecem o caráter, por isso deveriam ser expulsos da cidade. Hoje, com essa vontade de se amoldar ao mundo, muitos setores da Igreja substituíram a música-oração pela música mensagem. E a música-mensagem, às vezes, pode ser até o ritmo, o grito, o berro. Já o canto gregoriano é recolhimento, é elevação. Pesquisas recentes descobriram que o canto gregoriano tem até mesmo um efeito terapêutico. Um grupo de pesquisadores alemães constatou que os doentes mentais ficam mais tranqüilos quando ouvem música clássica, ao passo que se agitam ao ouvir rock. Já um italiano notou que, com o canto gregoriano, se ia além dos efeitos da música clássica — o doente mental não apenas ficava tranqüilo como também entrava num processo de recuperação. Em Paris, há um cientista que se utiliza do canto gregoriano na cura de doenças mentais. Ele descobriu que os tons altos do gregoriano correspondem ao tom de voz da mãe quando fala com seu filho no útero. E é bom salientar que os tons altos da música de Mozart têm íntima relação com os tons altos do canto gregoriano. O mercado fonográfico redescobriu o canto gregoriano. Tudo começou com os monges da Abadia de São Domingos, que gravaram um disco. Mas eles se agastaram e não querem gravar mais. O canto gregoriano estava sendo usado até em strip-tease. Estava virando uma profanação sem limites. Em Anápolis, no seminário, estamos tentando recuperar o canto gregoriano.

José Maria e Silva — Além do canto gregoriano, o latim também foi jogado no lixo?

Infelizmente. O que é um crime. O latim é mais que um idioma — é um xadrez que esclarece o pensamento. O latim me leva à saudável ginástica mental. Evidentemente, não sou favorável à volta da missa em latim, porque não há mais condições culturais para isso, mas creio que seria salutar que sempre houvesse missas em latim para aqueles que querem. Na Europa, há igrejas que ainda hoje reservem horários para missas em latim. E há muitos fiéis que gostam.

José Maria e Silva — O senhor é a favor da missa em latim com o padre virado de costas para o público?

O padre nunca esteve de costas para o público — ele esteve à frente do público, virado para Deus. É uma questão de interpretação. E a missa atual coloca o padre de frente para o público e para Deus, que fica no centro, no altar. O que também é muito positivo. O que ocorre é que muitos sacerdotes se esqueceram que sua função é interligar o povo a Deus e se coloca como o centro da missa, se transformando num showman. É lamentável ter que dizer isso, mas há certas missas que não diferem muito de programas de auditório da televisão.

José Maria e Silva — Como o senhor avalia as missas afro-brasileiras, que incorporam a dança e o batuque à liturgia?

Entendo isso como uma volta ao que nunca existiu. Todo esse movimento negro no Brasil, em termos culturais, surge com Nina Rodrigues (1862-1906). Os negros no Brasil são todos assimilados. Não vou discutir, aqui, como se deu esse processo de assimilação, mas o que importa é entender que, em termos culturais, o negro brasileiro não é africano. Pelo amor de Deus, é preciso entender isso.

Euler Belém — O avanço tecnológico, ao contrário do que se esperava, não afastou o homem de Deus. Mas do que nunca as religiões e seitas estão fortes. Por quê?

Na abertura daquele fantástico livro de Santo Agostinho, As Confissões, ele diz mais ou menos assim: “Senhor, tu me fizeste para ti, e o coração humano não encontrará repouso senão em ti”. O homem não é um animal aperfeiçoado, uma parcela de um jogo matemático-econômico — ele é pó, mas é pó com sopro divino. E o coração do homem é insaciável. O mundo de hoje não quer acreditar em Deus e acaba absolutizando o relativo, eternizando o temporal. O homem moderno enche o coração de novidades, de tecnologias, de ilusões, mas no fundo seu coração está vazio.

Euler Belém — O que o senhor acha da pílula anticoncepcional e da camisinha?

A pílula anticoncepcional foi recursos descoberto com objetivos terapêuticos, para mulheres que sofriam de dismenorréia. Depois é que passou a ser utilizada como anticoncepcional. E aí vieram os problemas, morais e físicos. A pílula abriu as portas para toda a degradação moral que estamos vendo. Já em relação à camisinha, para mim há algo de satânico, de diabólico na campanha que recomenda seu uso. Dizer que o uso da camisinha é o sexo seguro contra a Aids é um crime. Numa relação sexual, cerca de 10 por cento dos espermatozóides passam pelos poros da camisinha. E o vírus da Aids é muito menor que o espermatozóide, obviamente, passa muito mais. Nem precisa dizer o que acontece.

José Maria e Silva — Uma adolescente, virgem, é estuprada violentamente. Ao cabo de um mês após o estupro, quando ainda não conseguiu se recuperar do trauma sofrido com a violência, ela descobre que está grávida do estuprador. Se ela optar pelo aborto, será condenado ao inferno?

Se ela, antes adolescente e virgem, optar pelo aborto, já está condenada ao inferno nesta vida, pelos remorsos da consciência, avivados a cada choro, a cada sorriso ou a cada passinho de criança que poderia ser a sua, se não a tivesse matado. Não é sem razão que 85 por cento das mulheres internadas em casas de saúde mental nos Estados Unidos, país tão liberal, têm na sua história pelo menos um aborto. Falo de opção. Mas mesmo quando apenas cede à pressão, à chantagem ou ao desespero, a angústia não é menor. O problema é que o aborto é assassinato frio de um inocente, que está vivo e não tem nada a ver com o que fizeram. Não se pode obrigá-la a ficar com o filho, mas não é possível simplesmente convidá-la a ser assassina. O aborto é o crime mais frio, mais cruel, mais absurdo da nossa época.

Euler Belém — Os governos dizem que a escola pública está melhorando, mas ela ainda está aquém do que a sociedade espera. O que está faltando para a escola pública melhorar?

Muita coisa. O Relatório Coleman ao Senado Americano dizia que as escolas sem filosofia de vida apresentam não só mais graves problemas de disciplina e moralidade, mas também de menor aproveitamento escolar. Ele afirmava que esta era a razão da decadência da escola pública nos Estados Unidos. Não se pode pretender somente erudição, principalmente hoje, quando os bancos de dados são tão numerosos, ricos e acessíveis. Se a escola não forma para a vida, ela fracassa. A educação não acontece sem valores humanos apresentados. Se a própria escola, a partir do testemunho dos professores, não educa por tudo o que é e tem, é inútil e prejudicial. Não se educa por um aglomerado de conhecimentos científicos, mas por uma estruturação de valores humanos, que uma formação humanística pode dar. Supercérebros arriscam-se a se tornar supermonstros. O coração, a sensibilidade, a consciência, a vontade são áreas essenciais da personalidade humana. E disto, pouco se cogita ou se cogita mal. Valorizar os professores, sim, mas qualificando as verdadeiras vocações ao magistério, em cujas mãos se prepara, em grande parte, o futuro das novas gerações.

Euler Belém — O que está acontecendo com os jovens que, cada vez mais, procuram drogas, como cocaína, maconha, cigarro e álcool?

Os nossos jovens são, em geral, frutos e vítimas de uma sociedade consumista, materialista, imediatista, ávida de prazer, fabricada ou explorada pela mídia, bem ao gosto e a serviço dos que querem conduzir os homens como massa de manobra, inconsciente do seu destino pessoal. Quando faltam ideais de grandeza e auto-estima, já não se sabe o que fazer da vida. Aí vale tudo para se fugir de uma liberdade inútil e de uma responsabilidade absurda. Foge-se nas asas de um sonho químico, na loucura de um ritmo alucinante e alienante, na degradação do sexo sem dignidade e amor, ou até na superatividade estressante de quem não quer ter tempo nem para pensar. Precisamos de apóstolos capazes de atrair o jovem, pelo entusiasmo e pelo testemunho, a uma estrada de sacrifício e heroísmo. Porque os que ainda têm condições de atender a esse apelo — e não são poucos — poderão, à falta de autênticos valores, deixar-se seduzir pelo brilho efêmero de ideologias de morte e escravidão, inclusive pelo culto a satã, “homicida desde o início” e “pai da mentira”, como o chama Jesus. No fundo, todos sentem que só vale a pena viver quando se encontra uma causa pela qual valha a pena morrer. E a vitória sobre a morte, só Cristo no-la dá, pela sua morte e ressurreição. Sem ele, não há caminho, nem verdade, nem vida.

Euler Belém — O conflito da Globo com a Igreja Universal do Reino de Deus teve só componentes comerciais? O que o senhor acha da igreja dirigida por Edir Macedo, que se intitula bispo?

O conflito da Globo com a Igreja Universal é problema deles. A atitude infeliz e grosseira do “bispo” que agrediu a sensibilidade cristã do povo é mais profunda do que se esperava. Despertou até a consciência católica, não só para o amor a Nossa Senhora, mas também para o clima de real perseguição que estamos sofrendo em todos os campos. O fato de ter-se a Globo aproveitado isso para combater a rival, não a redime das iniqüidades que pratica diariamente contra os princípios cristãos. Nessa altura, são dignas uma da outra.

José Maria e Silva — Os evangélicos costumam dizer que Anápolis é uma cidade evangélica. Foi lá, por exemplo, que começou a Assembléia de Deus em Goiás, a maior denominação evangélica do Estado. O Senhor concorda que, em Anápolis, os evangélicos chegaram, de fato, a uma espécie de poder espiritual?

Não se pode esconder a influência das igrejas evangélicas em Anápolis. Mas os diversos horários de santas missas, tanto aos sábados e domingos, como em dias de semana, mostram uma larga participação católica. Não falo só dos momentos fortes da liturgia: Natal, Semana Santa, Páscoa, Pentecostes, Corpo de Deus. A Campanha da Fraternidade, os movimentos marianos e a recitação do terço em família, as manifestações pró-vida etc., confirmam ativa presença católica. Quando cheguei, a estatística oficial dava 83 por cento de católicos (sei que não poucos e são de nome apenas). Depois, creio que em 89, a estimativa era de 80 por cento. Cheguei a reclamar que tivessem tirado o item “religião” dos recenseamentos. Entretanto, nossas igrejas estão cheias, o atendimento é satisfatório, os movimentos, em geral, dinâmicos, a catequese extensa. Sempre há muito por fazer. Mas os números não nos preocupam. As vidas, as almas, sim.

Euler Belém — O senhor já teve simpatias pelo marxismo?

Não. Que me desculpem, mas para ler um livro como O Capital é preciso ter muito estômago. Tenho este livro numa edição espanhola. Marx foi satanista aos 17 anos, teve um filho com a empregada, deixou dois filhos morrerem de fome. Era um homem completamente irresponsável. E toda obra, de alguma maneira, é autobiográfica — ela assimila as fraquezas do autor.

José Maria e Silva — Não há dúvida que o pensamento de Marx é disforme e até confuso, assim como o de Max Weber, segundo alguns críticos. Mas Marx não tem nada de aproveitável? O senhor desconhece a importância dele como pensador?

Marx tem algumas coisas importantes. A Questão Judaica, por exemplo, é interessante.

José Maria e Silva — Como o senhor avalia a participação dos leigos nos sacramentos católicos, inclusive manipulando a hóstia?

Acabo de traduzir um livrinho sobre o assunto. É de um autor italiano e se chama O Complô Contra os Sacerdotes e a Eucaristia. A gente tem impressão que houve um plano para fazer o povo perder a fé na eucaristia. A manipulação fácil da eucaristia quebra toda sua riqueza e a sensibilidade.

Luiz Carlos Bordoni — Como o senhor se posiciona em relação à pena de morte?

Não defendo a pena de morte, mas entendo que se um organismo chega a uma situação em que só cortando um dedo podre ele é capaz de se recuperar, então, esse dedo tem que ser cortado. O próprio Cristo prega isso na Bíblia, em relação aos homicidas vinhateiros. Se uma sociedade não tem o direito de eliminar um sujeito que está pondo em risco a sobrevivência dela, então, ela está indefesa perante a própria ruína.